terça-feira, 18 de maio de 2010

Prefácio de um ensaio sobre a saudade (Carlos Alberto de Pinho Junior)

O que há de mais torturante é a saudade do afago não dado . Passou , se faz presente na memória . Mas , como palavras alçadas aos tímpanos , perderam-se nos segundos que , tal qual estrelas , vagam na imensidão do passado .

A saudade dos momentos compartilhados , das declarações feitas , dos beijos selados , são belos , dando-nos a sensação de estar tocando o imponderável , o não físico ,o incomensurável , o divino . Sem tocarmos de fato . “O minuto é um milagre que não se repete” . Certa vez , ouvi esta frase pelo rádio e jamais esqueci .

E o não ? (. . .) Aquilo que você poderia , no entanto , hesitou ; recuou , aprisionado na covardia vedada de orgulho , e se foi . Posteriormente , quando tenta redimir-se , não há mais a ser fincado , a despeita flâmula do tempo não ficará da mesma maneira , como aquele momento proporcionaria . Era aquele , não era o depois , daqui a cinco minutos , tampouco um "até amanhã" .

O agora . O agora não é exigente , visto que não o notam quando deveria ser percebido . Somente lamentam . Lamentam um olhar , uma confissão de amor , um abraço , grilhados na desatenção e na presunção da eternidade . Sendo que os instantes apenas são perenes quando demarcam território , fronteiras , fixam domínios , ilimites das nossas lembranças . E ali ficam , além do sentir ; uma visão contemplativa . Entretanto , existem apenas na mente ignorante do homem , no afã de segregar .

E cada um de nós , com o passar de cada segundo , decide o que fazer com o seu agora . E , numa reflexão gradual e solitária , sentimo-nos bem ou mal com o que traz uma saudade .

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