segunda-feira, 26 de abril de 2010

A epopéia do futebol (Carlos Alberto de Pinho Junior)

Os portões se abrem , uma satisfação inexplicável toma os corações daquelas pessoas de forma avassaladora . Ponte ao céu , trampolim para o inferno .

Os espectadores se acomodam . O coliseu tem carne até as vigas. O centro das atenções é um pedaço de grama cercado de sonhos , desilusões , alegrias e tristezas por todos os lados . O que há de mais doce e de mais odioso . As delícias e delírios de milhares de almas mundanas estão nos pés , na cabeça de um daqueles que , como num épico de Homero , sairá altivo , vigoroso , no entanto , fatigado , no limite da estafa , após tão selvagem batalha.

Os olhares submissos fitados no altar . Adorado , porém , imaculado , inalcançável a nós , simples mortais , que almejamos em noventa minutos uma fuga para nossas aflições .

Os minutos , violando as regras de Chronus , por vezes , são angustiantes tal qual uma eternidade . Contudo , também podem ser pacificadores como a morte e extasiantes como a paixão .

Mediar o desafio , cabe ao deus das decisões . O juiz . Dono da verdade errada e da mentira certa . Detentor do tempo . Pode se apossar do destino . É bondoso e sádico , uma dualidade típica das divindades .

O objeto de desejo é colocado entre argonautas e marujos . É chegado o momento em que o silêncio ensurdecedor dará lugar ao brado incessante .

Um braço se estende , o apito soa . E todos correm em busca de uma meta , de uma bola , numa rede .

Que vença o espetáculo !

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Prefácio de “ A Conspiração do Estado” : Manifesto (Carlos Alberto de Pinho Junior)

Motivei-me a escrever pela indignação com relação à carga tributária a qual estamos submetidos , sem o devido retorno . Aliás , a contrapartida ao nosso “investimento” (pois era para ser considerado como tal) está bem aquém , muito distante do ideal , do que temos direito . Nossos direitos estão sendo feridos . Há muito tempo .

Indago-me e , assim , vos pergunto : para ‘o’ quê pagamos impostos ? Temos acesso à rede de ensino público . Mas , se queremos algo de confiança e qualidade , temos de recorrer ao serviço particular . O mesmo ocorre com a saúde , segurança , três pontinhos , etc e tal . Os planos de Saúde e os serviços de segurança privada e blindagem de automóveis agradecem . Grande parte dos políticos e dirigentes públicos também agradece . Agradecem a si próprios defronte aos seus respectivos espelhos . Pois , graças à incompetência geral da distinta classe (só incompetência?) , arrebanham dezenas , centenas de milhares de votos com os seus “núcleos sociais” – que crescem , expandem-se a cada dia com capital , em inúmeros exemplos , de origem não explicada . Chegará um dia em que não saberemos se estamos entrando num hospital público ou numa dessas obras oriundas da mais pura ‘caridade’ dos nossos ‘benfeitores’ . Ou melhor , saberemos sim , no momento em que a curiosidade (mera curiosidade) quiser saber se o título de eleitor está regularizado .

Sabe , tem certas notícias , denúncias , flagrantes – constatações de que as coisas estão indo por um caminho nefasto – que desanimam . Desanima quem paga os seus impostos em dia . Quem acorda às tantas da matina para trabalhar . Enfim , desanima quem tenta andar nos trilhos . Quem é tentado todos os dias e não se entrega . No entanto , desanima-se . E os algozes não são poucos : negociatas escusas , desvios de verbas , de materiais destinados aos diversos ramos do serviço público por seus próprios funcionários (acredito que na sua minoria) . Uma bela matéria do formidável programa CQC , da Bandeirantes , denunciou com contundência tal ato .

Nesse contexto , os meios de comunicação são fundamentais . Os jornais publicam , as rádios narram , as televisões exibem . E quando a podridão vem à tona , vem em cascata : autoridades da segurança pública e os seus negócios de segurança particular (que , se não são ilegais , são imorais) , muitas vezes coagindo quem não quer se submeter a essa espoliação ; muitas vezes dando segurança àqueles que deveriam estar atrás das grades , e que não estão por razões que a própria razão conhece muitíssimo bem . A corrupção , recentemente desbaratada , em hospitais municipais no Rio , na qual estariam envolvidos ocupantes de cargos de chefia da Saúde Pública e de grandes empresas . Vale – e como vale – lembrarmos da dívida habitacional condicionada à falta de interesse – ou tardio - dos nossos governantes em quitá-la . Os cadáveres nos morros do Bumba , dos Prazeres e de tantos outros nomes e localidades estão aí , sendo desenterrados. Expostos . Para que ninguém esqueça . Lamentavelmente , comprovando as vistas grossas feitas pelo nosso sedentário Estado . Passam-se os anos , os “caciques” , e elas continuam fingindo não enxergar as calamidades que acontecem ao seu redor . Tem gente que está há tanto tempo no poder que vai começar a criticar o mandato anterior alegando ter dupla personalidade , e que o picareta , salafrário , tratante seria um outro ‘eu’ . Ao invés de se buscar a cura , maquia-se para dar a unção . Em suma , se eu parasse para listar caso a caso , digitá-los , relatá-los ao caro leitor , um a um , ininterruptamente , confesso que a minha vida social ficaria extremamente , enfatizando , drasticamente comprometida . E não é essa a minha intenção .

Quem ligar os pontos pode achar até que há uma conspiração do Estado . Será que é tão absurdo ? Pela presença verificada em todas as instâncias da sociedade brasileira , há os que considerem que a corrupção tomou o poder , literalmente . E isso foge do alcance e das pretensões (tanto as boas como as más) de qualquer líder do Executivo . Existe desde um tempo o qual não sei , sinceramente , precisar . Não é mérito do atual governo . O atual Presidente não poderá usar o bordão : “Nunca na história deste país" . . . se roubou tanto . Até porque não saberíamos a veracidade de tal afirmação . E acho que nenhum governante gostaria de se vangloriar nesse sentido . Pelo menos publicamente .

Quem sabe o triste passado fique na memória , para sermos fiscais do presente e , com isso , desfrutarmos de um futuro melhor , contrariando a máxima de que o brasileiro tem memória curta ? Quem sabe se esqueceremos facilmente dentro de alguns meses , e tudo permanecerá como dantes no quartel de Abrantes ? Quem sabe ? Na dúvida , prefiro o primeiro horizonte . Não que eu seja um otimista cego . Diria que tenho esperanças míopes. Ainda assim , são esperanças . E , por que não tê-las , mesmo que embaçadas ?

Oxalá que consigamos ver para onde estamos indo !