segunda-feira, 13 de setembro de 2010

De Oliveira Vianna a Schumpeter (Carlos Alberto de Pinho Junior)


Democracia , pra quem seria ?
Se o meu desejo é revelia
E o meu ranger se anestesia
Por ser tão pouco num todo

Oh , doce ilusão impregnada de lôdo
Emperrada na batalha do dia
Descompassada , um cego sem guia
Bebendo de um copo vazio , quem diria ?

No entanto , o povo clama pelo ontem
E a sua voz , contam aí , é a de deus
Quiçá , o que signifique aos ateus

Se não passamos de meros e pobres plebeus
E o problema da nação são os filhos seus
O homem é produto do meio ou este invenção d'alguém ?


domingo, 30 de maio de 2010

Tanto lá , como cá : politicagem pra dar e vender (Carlos Alberto de Pinho Junior)

Lula de mãos dadas com o presidente da África do Sul, Jacob Zuma
Foto: Dida Sampaio/AE

“Que bonito é” . . .

Estamos prestes a acompanhar mais um grande evento esportivo : a Copa do Mundo , na África do Sul . Algo que , por si só , será marcante . Já que estará distante dos países desenvolvidos , fato incomum nas últimas edições . Como forma de aumentar a aceitação e o envolvimento da sua população com o espetáculo máximo do futebol , as autoridades sulafricanas prometeram mundos e fundos . Um horizonte de crescimento que a escolha como sede proporcionaria ao país , assolado por graves problemas , dentre eles : a fome , as doenças e a violência . Ainda assim , com uma capacidade de alegrar-se bem familiar .

Passara-se todo o período de preparação do país sede para a competição . É , o tempo voa . E o que nós vemos ? Pouca coisa . Muito galhardete , muito festejo , a carnavalesca ilusão dos estádios repletos de cores . Entretanto , nada além de maquiagem e um vestido aparentemente aceitável . Mera embalagem , em nada convincente . O desemprego é altíssimo . As greves , freqüentes . A precariedade dos transportes e a insegurança são latentes . O povo mescla a expectativa e o desapontamento . Não há mudança para aquele homem com um sorriso nos lábios , o olhar marejado e o corpo cansado de tanto lutar . Sabedor , porém , de que não pode parar jamais .

E aí , pensamos no Brasil . E nos nossos governantes , com os seus planos , projetos , objetivos , previsões e , especialmente , orçamentos ambiciosos . A eterna potência do futuro . Durante o Estado Novo de Vargas e o Regime Militar , exaltava-se o estado de exceção como forma de garantir o desenvolvimento nacional . Sempre com a visão voltada para um “amanhã” . Após as duas décadas da volta à democracia , a abstração de um porvir “ideal” persiste . Todavia , as desculpas arranjadas e definidas como “o caminho e a verdade” para se chegar lá são outras .

As fichas estão depositadas nos Jogos Olímpicos de 2016 (que serão no Rio) e , principalmente , no Mundial de 2014 . Em se tratando deste , fora realizada toda uma campanha nacional e internacional . Compromissos – como os políticos costumam dizer – “firmados” para o início de obras na área de infra-estrutura logística , de transporte (expansão da malha metroviária , aquisição do Trem Bala) e a promessa de não utilização do dinheiro do contribuinte na construção de arenas permeam o discurso político . E o discurso está afiado . Por sinal , somente o discurso . Nossos dirigentes não titubearam ao dar caráter “messiânico” ao acontecimento . Tornou-se um potencial “salvador da pátria” .

O progresso de um país não pode estar condicionado à realização ou não de um evento de um mês – independente do seu grau de importância . É um processo que demanda um longo tempo . O peixe vendido desde 2007 (ano da oficialização do Brasil como sede) satisfaz muito mais as misteriosas pretensões particulares do que o interesse público . Estamos em 2010 : o que já foi feito ? Quatro anos não são suficientes para se construir um país . Tampouco , consolidar uma nação .

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Um menino e o Bonsucesso (Carlos Alberto de Pinho Junior)

Rio de Janeiro , 2025 .

Lembro-me das tardes de sábado em que , quando menino , arrastava o meu irmão para acompanhar os jogos do Bonsucesso . Vestia a camisa e , com a alegria de um céu azul , soltava do lotação em frente ao estádio Leônidas da Silva , nome de um grande ídolo do clube . De quem , por sinal , não me cansava de falar , mesmo sem ter visto um só lance que tenha feito , pois era de uma época em que nem a minha saudosa avó sonharia ter nascido .

No caminho até o estádio , as pessoas , vendo-me trajado com o manto sagrado , não acreditavam que uma criança que tinha tantas opções – impostas , por vezes , pelos pais ou pela mídia – fosse escolher torcer pelo “Leão da Leopoldina” . Meu pai , ainda hoje , me pergunta : “Como é possível”? Nem sei se a melhor palavra seria “escolher” . Não escolhemos amar alguém ou algo . Para os cientistas , seria o resultado de reações bioquímicas . Para os poetas , é uma predestinação divina .

Dentro do eterno “Caldeirão” era uma festa . Fogos , aplausos , conversas , descontração . A marcação do surdo acompanhava o canto da torcida enquanto os ídolos da minha infância se preparavam para pisar no altar da esperança . Chegávamos à arquibancada , atrás de uma das metas , onde costumavam ficar amigos que compartilhavam , de longa data , o amor e a admiração pelo Cesso , como foi carinhosamente apelidado . Algumas daquelas pessoas , acabei conhecendo por lá . Outras , reencontrei nesse inexplicável acaso que se chama vida.

Nesses dias de criança , ri e chorei , entre gritos , canções improvisadas , elogios e xingamentos . Mas os bons momentos foram muito mais intensos . E mesmo que não fossem , estaria presente . Pois torcer de fato independe da circunstância . E o sentimento inexiste para descrições ou explicações . Ele simplesmente se vive . Desfrutando ou lamentando . Jamais sofrendo .

Quando , após muita insistência , o gol era alcançado , geralmente saído dos pés de Paty , as preocupações do cotidiano davam uma folga e todos se tornavam um gigante . As barreiras , as diferenças ou a distância construída pelo tempo desmoronavam , tal qual um castelo de areia desfeito por um vendaval . Com o final decretado e a vitória celebrada , as palmas não faziam-se de rogadas . E eu voltava à minha rotina . Porém , satisfeito . Porque , durante aqueles minutos , a felicidade era rubro anil .

terça-feira, 18 de maio de 2010

Prefácio de um ensaio sobre a saudade (Carlos Alberto de Pinho Junior)

O que há de mais torturante é a saudade do afago não dado . Passou , se faz presente na memória . Mas , como palavras alçadas aos tímpanos , perderam-se nos segundos que , tal qual estrelas , vagam na imensidão do passado .

A saudade dos momentos compartilhados , das declarações feitas , dos beijos selados , são belos , dando-nos a sensação de estar tocando o imponderável , o não físico ,o incomensurável , o divino . Sem tocarmos de fato . “O minuto é um milagre que não se repete” . Certa vez , ouvi esta frase pelo rádio e jamais esqueci .

E o não ? (. . .) Aquilo que você poderia , no entanto , hesitou ; recuou , aprisionado na covardia vedada de orgulho , e se foi . Posteriormente , quando tenta redimir-se , não há mais a ser fincado , a despeita flâmula do tempo não ficará da mesma maneira , como aquele momento proporcionaria . Era aquele , não era o depois , daqui a cinco minutos , tampouco um "até amanhã" .

O agora . O agora não é exigente , visto que não o notam quando deveria ser percebido . Somente lamentam . Lamentam um olhar , uma confissão de amor , um abraço , grilhados na desatenção e na presunção da eternidade . Sendo que os instantes apenas são perenes quando demarcam território , fronteiras , fixam domínios , ilimites das nossas lembranças . E ali ficam , além do sentir ; uma visão contemplativa . Entretanto , existem apenas na mente ignorante do homem , no afã de segregar .

E cada um de nós , com o passar de cada segundo , decide o que fazer com o seu agora . E , numa reflexão gradual e solitária , sentimo-nos bem ou mal com o que traz uma saudade .

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Soneto Maquiaveliano (Carlos Alberto de Pinho Junior)

Um Rei busca manter-se forte
Manter-se forte é manter-se vivo
Caminhando altivo a todos os crivos
Com o mistério protetor da própria sorte

Um homem que sonha em um dia ser rei
Deve parecer o que os olhos veneram
Deleitar-se dos vinhos que jamais beberei
Alheio à réplica do que outros eram

Nascer ungido da virtu não alça à eternidade
A mão que guia a fortuna é uma
A cada sopro de sobriedade

E aquele tentado a todos saciar
Pode por fim sucumbir à desgraça
E não importa o que faça após o copo transbordar

domingo, 16 de maio de 2010

O Fotógrafo e o Historiador (Carlos Alberto de Pinho Junior)

Assim como um fotógrafo que , por meio da reprodução do espaço fotografado , congela uma paisagem e as pessoas que nela vivem , a fim de relembrar , por intermédio da imagem reproduzida na fotografia , as memórias ligadas ao objeto representado , o historiador busca a produção de uma visão sobre um determinado processo na história que seja a mais plausível . Não com a pretensão de que seja absolutamente fidedigna ao que acontecera , já que o passado é “irreconstituível”, por mais que existam as fontes primárias para a sua recorrência e auxílio .

Os documentos úteis à tarefa do historiador de compreender o processo são vestígios do passado . Eles também não são plenamente verossímeis com o ocorrido . Nem o relato de quem esteve lá . As tensões são inúmeras – condicionadas a vários aspectos - , e “verdade” é uma palavra a ser proferida com muito cuidado .

Os relatos , os documentos , enfim , estes vestígios de passado não são fotografias a mostrar as imagens tais quais estavam lá , num presente que tão logo virou passado , como cada sílaba que ponho neste texto . E sim são instrumentos necessários à compreensão de um determinado período , evento ou processo , como queira , por parte do historiador .

Tal qual o fotógrafo que não consegue alcançar as paisagens além das dimensões da fotografia , o historiador também não consegue reunir todos os elementos documentais , todos os vestígios , tampouco os acontecimentos não registrados . E assim , como numa escolha das melhores fotos na sala de revelação , o historiador seleciona os objetos de sua pesquisa e convive verificando , nas abordagens sobre uma determinada época , o mesmo ponto sob diferentes perspectivas .

Muito Obrigado , Professor Manoel Salgado !

segunda-feira, 26 de abril de 2010

A epopéia do futebol (Carlos Alberto de Pinho Junior)

Os portões se abrem , uma satisfação inexplicável toma os corações daquelas pessoas de forma avassaladora . Ponte ao céu , trampolim para o inferno .

Os espectadores se acomodam . O coliseu tem carne até as vigas. O centro das atenções é um pedaço de grama cercado de sonhos , desilusões , alegrias e tristezas por todos os lados . O que há de mais doce e de mais odioso . As delícias e delírios de milhares de almas mundanas estão nos pés , na cabeça de um daqueles que , como num épico de Homero , sairá altivo , vigoroso , no entanto , fatigado , no limite da estafa , após tão selvagem batalha.

Os olhares submissos fitados no altar . Adorado , porém , imaculado , inalcançável a nós , simples mortais , que almejamos em noventa minutos uma fuga para nossas aflições .

Os minutos , violando as regras de Chronus , por vezes , são angustiantes tal qual uma eternidade . Contudo , também podem ser pacificadores como a morte e extasiantes como a paixão .

Mediar o desafio , cabe ao deus das decisões . O juiz . Dono da verdade errada e da mentira certa . Detentor do tempo . Pode se apossar do destino . É bondoso e sádico , uma dualidade típica das divindades .

O objeto de desejo é colocado entre argonautas e marujos . É chegado o momento em que o silêncio ensurdecedor dará lugar ao brado incessante .

Um braço se estende , o apito soa . E todos correm em busca de uma meta , de uma bola , numa rede .

Que vença o espetáculo !